BLOGUE DA ESCOLA SANTA MÔNICA _ PELOTAS/RS

"Chega mais perto e contempla as palavras.

Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra.

E te pergunta, sem interesse pela resposta.


Pobre ou terrível, que lhes deves:

'Trouxeste a chave?' "

(Carlos Drummond de Andrade. Procura da poesia)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Proposta de redação: alunos do 1º ano médio

"A maldição de Patty, por Tevê Pirata"

"A Barbie

Por Rubem Alves

Fiquei comovido quando li que foram encontradas bonecas em túmulos de crianças no Egito, na Grécia e em Roma. Pude imaginar o que os pais deveriam estar sentindo ao colocar aquele brinquedo junto ao corpo da filha morta. Eles o faziam para que ela não partisse sozinha, para que ela não tivesse medo...

De fato, uma criança abraçada a uma boneca é uma criança sem medo, uma criança feliz. Os meninos, proibidos de ter bonecas, se abraçam aos seus ursinhos de pelúcia. E nós, adultos, proibidos de ter bonecas e de ter ursinhos de pelúcia, nos abraçamos ao travesseiro... Os objetos são diferentes, mas o seu sentido é o mesmo: o desejo de aconchego e de ternura.

Por isso eu acho que o senhor e a senhora fizeram muito bem ao dar uma boneca de presente para a sua filhinha.

Com uma exceção, é claro: se a boneca não foi a Barbie. Porque a Barbie não é uma boneca. Falta a ela o poder que têm as outras bonecas, bebezinhos, de afugentar o medo e provocar sentimento maternais de ternura. Não posso imaginar uma menina dormindo abraçada à sua Barbie. Nenhum pai colocaria a Barbie no túmulo da filha morta.

A Barbie não é boneca. É uma bruxa.

Posso bem imaginar o espanto nos seus olhos. Eu imagino também os seus pensamentos: O Rubem perdeu o juízo. A Barbie é uma boneca de plástico, não mexe, não pensa, não fala. E agora ele diz que ela é uma bruxa...

Que as bonecas, ao contrário das aparências, têm uma vida própria, eu aprendi no 2° ano primário. Minha professora me deu um livro sobre bonecas e bonecos: enquanto a gente estava acordado, elas ficavam deitadinhas, olhinhos fechados, fingindo que dormiam. Mas bastava que os vivos dormissem para que elas acordassem e se pusessem a falar coisas.

As bonecas foram os primeiros brinquedos inventados pelos homens.

E foram também os primeiros instrumentos de magia negra. Um alfinete, aplicado no lugar certo de uma boneca – assim afirmam os entendidos – tem o poder de matar a pessoa que se parece com ela.

Pois eu digo que a Barbie é uma bruxa.

Bruxa enfeitiça. Enfeitiçada, a pessoa deixa de ter pensamentos próprios. Só pensa o que a bruxa manda. A pessoa enfeitiçada fica possuída pelos pensamentos da feiticeira e só pensa e faz aquilo que ela manda.

Se falo é porque vi, com esses olhos que a terra há de comer. Basta que as crianças comecem a brincar com a Barbie, para que fiquem diferentes. O pai manda, a mãe manda, a criança faz birra e não obedece. Não é assim com a Barbie. Basta que a Barbie mande para que elas obedeçam.

De novo você vai me contestar, dizendo que a Barbie não fala e não tem vontade. Por isso não pode nem dar ordens nem ser obedecida.

Errado. O fantástico é que ela, sem falar e sem ter vontade, tenha mais poder sobre a alma da criança que os pais. Quem me revelou isso foi o futurólogo Alvin Toffler, no seu livro O Choque do Futuro, que li em 1971. O capítulo A Sociedade do Joga-Fora começa com a Barbie. Nascida em 1959, em 1970 mais de 12 milhões já tinham sido vendidas. Um negócio da China. E por quê? Porque a Barbie, diferente das bonecas antigas, bebês que se contentam com uma chupeta e um chocalho, tem uma voracidade insaciável. A Barbie é uma boneca que nunca está contente: ela sempre pede mais. E essa é a grande lição que ela ensina às crianças: Compra, por favor!

Para se comprar há as roupas da Barbie, a banheira da Barbie, o secador de cabelo, o jogo de beleza, o guarda-roupa, a cama, a cozinha, o jogo de sala-de-estar, o carro, o jipe, a piscina, o chalé de praia, o cavalo e os maridos, que podem ser escolhidos e alternados entre o loiro e o moreno etc. etc. A Barbie está sempre incompleta. Portanto, com ela vem sempre uma pitada de infelicidade. Aliás, esta é a regra fundamental da sociedade consumista: é preciso que as pessoas se sintam infelizes com o que têm, para que trabalhem e comprem o que não têm. A Barbie tem esse poder: quem a tem está sempre infeliz porque há sempre algo que não se tem, ainda. E os engenheiros da inveja, a serviço das fábricas, se encarregam de estar sempre produzindo esse novo objeto que ainda não foi comprado. Mas é inútil comprar. Porque logo um outro será produzido. É a cenoura na frente do burro... Ela nunca será comida.

Quem dá uma Barbie para uma criança põe a criança numa arapuca sem saída. Porque, ao ter uma Barbie, ela ingressa no Clube das Meninas que têm Barbie. E as conversas, nesse clube, são assim: Eu tenho o chalé de praia da Barbie. Você não tem. Ao que a outra retruca: – Não tenho o chalé, mas tenho o marido loiro da Barbie, que você não tem.

Essa é a primeira lição que a inofensiva boneca de plástico ensina. Ensina a horrível fala do eu tenho, você não tens. A maldição das comparações. A maldição da inveja. Você deve conhecer alguns adultos que fazem esse jogo. Haverá coisa mais chata, mais burra, mais mesquinha? Ao dar uma Barbie de presente é preciso que você saiba que a menina inevitavelmente aprenderá essa fala.

Isso feito, uma segunda fala entra inevitavelmente em cena, impulsionada pelas ilusões da inveja. A menininha pensa: Estou infeliz porque não tenho. Se eu tiver, serei feliz. O jeito de se ter é comprar.
– Papai...

– Que é, minha filha?
– Compra o chalé de praia da Barbie? Eu quero tanto...

Filha na arapuca. Pai na arapuca.

Mas há uma saída. E, para ela, procuro sócios. Vamos começar a produzir o próximo e definitivo complemento para a bruxa de plástico: urnas funerárias para a Barbie. Por vezes o feitiço só se quebra com o assassinato da feiticeira – por bonitinha que ela seja..." (Grifos meus).

Alves, Rubem. Teologia do cotidiano: meditações. Ed. Olho d'água, 1994, p. 21 _ 25.

Depois de assistirem ao vídeo e ler essa crônica, vocês comprariam uma Barbie?! Urg!!!... Nem eu!!! Bj, Tê!
"O 'tédio' da criança-adulto na sociedade de consumo

Por Teresinha Brandão
Assistindo à televisão _ o que muito raramente o faço _, fiquei chocada com uma peça publicitária. Nela, uma criança, com uma determinação de adulto, com um linguajar e um modo de vestir também adultos (tudo isso, a um telespectador atento, tão-só postura aparente), olhava diretamente para mim e me dizia: "Se você está entendiada com as férias porque não tem o que fazer, assine "X", pois você terá acesso à internet livremente". Não é de deixar qualquer adulto indignado...? Não... Muitos adultos sequer notam o paradoxo da cena: a criança fazendo as vezes de adulto, e o adulto tratado como se criança o fosse.

Em primeiro lugar, pergunto: a quem é dirigida essa publicidade e quem essa criança "representa"? É porta-voz de quem? Com tanta segurança ao falar _ insisto, aparente! _, pareceu-me estar diante de um adulto. Tudo soava falso: o olhar da criança, seus gestos, suas roupas, sua pergunta. A pergunta, obviamente, ao se reportar o "tédio" das férias escolares, deveria ser dirigida às crianças. No entanto, quem pode "assinar 'X', senão um adulto? Diria que, em tese, a peça publicitária é dirigida às crianças, mas só em tese... Na verdade, eu estava diante de uma criança que, numa postura autoritária em relação aos adultos, ordenava-lhes: "Assinem!". Por que uma criança? Porque elas têm sido o alvo preferido da mídia quando se trata da venda de produtos, de estilos de vida, de valores. Afinal, quem resite ao apelo de uma criança "tão bonitinha... parece um adulto falando!"?
Desliguei-me da tevê após brevíssima mas profunda intervenção da tal criança e comecei a rememorar minha infância... Na casa da minha avó portuguesa, Conceição, brincávamos eu, minha irmã Rosane e meus dois primos. Onde brincávamos? No telhado... Sim, no telhado da casa, rsrs!! Adorávamos essa aventura e não reclamávamos de tédio em momento algum. Depois, eu e minha irmã sentávamos em um tapete colocado sobre os degraus de uma longa escadaria e meus dois primos iam descendo à frente puxando o tapete. Invertíamos: eles sentavam e nós os puxávamos. Como sempre alguém balançava, caía ou desistia no meio do caminho, ríamos muito! Mais tarde, conheci a Luciane e, na casa do meu avô Joaquim, eu e ela acordávamos cedinho, pegavámos nossos brinquedos _ lego, bonecas, jogos, bicicleta _ e só os deixávamos de lado na hora de dormir. Era assim nos finais de semana e durante as férias. Brinquei assim até por volta dos doze anos quando, então, comecei a despertar para outros interesses da pré-adolescência (ainda existe essa fase...?). Na pré-adolescência, passava alguns dias das férias na "Colônia de férias do vô Aimoré", como ele chamava o chalé verde com o pátio enorme, a parreira de uvas, o jasmineiro... Quando não estava em nenhum desses lugares, estava em casa: lia, via tevê (havia o Topo Gigio!!!!), brincava com minha irmã, com as/os vizinhas/os, enfim, curtia o "tempo ocioso", para mim, sagrado.
Voltando à propaganda da televisão e a um dos questionamentos iniciais _ "Afinal, quem resite ao apelo de uma criança 'tão bonitinha... parece um adulto falando!'?" _ pergunto a vocês, leitores: e se nós resistirmos...? Que tal? Pensem nisso...

Publicado originalmente em Tear de Sentidos (
aqui).
"Eu preciso tanto...

Por Shirley Souza

Conversamos um pouquinho com a autora do livro infantil Eu Preciso Tanto, Shirley Souza.

Meu Filho _ Como surgiu a ideia de fazer um livro sobre consumismo infantil?

Shirley Souza _ Eu já havia escrito o "Eu quero! Eu quero!" para essa mesma coleção da Escala Educacional, que trata o mesmo tema com as crianças menores, que estão na fase da birra, quando defendem aos berros suas vontades. Este livro é muito bem aceito nas escolas e eu achava que precisava aprofundar a reflexão sobre o consumismo com os mais velhos, que já são capazes de entender a diferença entre "querer" e "precisar", mas que continuam usando qualquer recurso para conseguir o que querem.

As crianças, cada vez mais, são vistas como consumidoras e formadoras de opinião no núcleo familiar e isso é usado intensamente pelo mercado e pela propaganda. [...]
aqui.

"Consumismo Infantil, um problema de todos

Leia o restante da entrevista clicando
Ninguém nasce consumista. O consumismo é uma ideologia, um hábito mental forjado que se tornou umas das características culturais mais marcantes da sociedade atual. Não importa o gênero, a faixa etária, a nacionalidade, a crença ou o poder aquisitivo. Hoje, todos que são impactados pelas mídias de massa são estimulados a consumir de modo inconsequente. As crianças, ainda em pleno desenvolvimento e, portanto, mais vulneráveis que os adultos, não ficam fora dessa lógica e infelizmente sofrem cada vez mais cedo com as graves consequências relacionadas aos excessos do consumismo: obesidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de tabaco e álcool, estresse familiar, banalização da agressividade e violência, entre outras. Nesse sentido, o consumismo infantil é uma questão urgente, de extrema importância e interesse geral.

De pais e educadores a agentes do mercado global, todos voltam os olhares para a infância − os primeiros preocupados com o futuro das crianças, já os últimos fazem crer que estão preocupados apenas com a ganância de seus negócios. Para o mercado, antes de tudo, a criança é um consumidor em formação e uma poderosa influência nos processos de escolha de produtos ou serviços. As crianças brasileiras influenciam 80% das decisões de compra de uma família (TNS/InterScience, outubro de 2003). Carros, roupas, alimentos, eletrodomésticos, quase tudo dentro de casa tem por trás o palpite de uma criança, salvo decisões relacionadas a planos de seguro, combustível e produtos de limpeza. A publicidade na TV é a principal ferramenta do mercado para a persuasão do público infantil, que cada vez mais cedo é chamado a participar do universo adulto quando é diretamente exposto às complexidades das relações de consumo sem que esteja efetivamente pronto para isso.

As crianças são um alvo importante, não apenas porque escolhem o que seus pais compram e são tratadas como consumidores mirins, mas também porque impactadas desde muito jovens tendem a ser mais fiéis a marcas e ao próprio hábito consumista que lhes é praticamente imposto.

Nada, no meio publicitário, é deliberado sem um estudo detalhado. Em 2006, os investimentos publicitários destinados à categoria de produtos infantis foram de R$ 209.700.000,00 (IBOPE Monitor, 2005x2006, categorias infantis). No entanto, a publicidade não se dirige às crianças apenas para vender produtos infantis. Elas são assediadas pelo mercado como eficientes promotoras de vendas de produtos direcionados também aos adultos. Em março de 2007, o IBOPE Mídia divulgou os dados de investimento publicitário no Brasil. Segundo o levantamento, esse mercado movimentou cerca de R$ 39 bilhões em 2006. A televisão permanece a principal mídia utilizada pela publicidade. Ao cruzar essa informação com o fato da criança brasileira passar em média quatro horas 50 minutos e 11 segundos por dia assistindo à programação televisiva (Painel Nacional de Televisores, IBOPE 2007) é possível imaginar o impacto da publicidade na infância. No entanto, apesar de toda essa força, a publicidade veiculada na televisão é apenas um dos fatores que contribuem para o consumismo infantil. A TNS, instituto de pesquisa que atua em mais de 70 países, divulgou dados em setembro de 2007 que evidenciaram outros fatores que influenciam as crianças brasileiras nas práticas de consumo. Elas sentem-se mais atraídas por produtos e serviços que sejam associados a personagens famosos, brindes, jogos e embalagens chamativas. A opinião dos amigos também foi identificada como uma forte influência.

Não é por acaso que o consumismo está relacionado à idéia de devorar, destruir e extinguir. Se agora, tragédias naturais, como queimadas, furacões, inundações gigantescas, enchentes e períodos prolongados de seca, são muito mais comuns e frequentes, foi porque a exploração irresponsável do meio ambiente prevaleceu ao longo de décadas.

Concentrar todos os esforços no consumo é contribuir, dia após dia, para o desequilíbrio global. O consumismo infantil, portanto, é um problema que não está ligado apenas à educação escolar e doméstica. Embora a questão seja tratada quase sempre como algo relacionado à esfera familiar, crianças que aprendem a consumir de forma inconseqüente e desenvolvem critérios e valores distorcidos são de fato um problema de ordem ética, econômica e social.

O Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, combate qualquer tipo de comunicação mercadológica dirigida às crianças por entender que os danos causados pela lógica insustentável do consumo irracional podem ser minorados e evitados, se efetivamente a infância for preservada em sua essência como o tempo indispensável e fundamental para a formação da cidadania. Indivíduos conscientes e responsáveis são a base de uma sociedade mais justa e fraterna, que tenha a qualidade de vida não apenas como um conceito a ser perseguido, mas uma prática a ser vivida."

(Extraído do site do Instituto Alana: aqui)

Proposta de redação

Os textos acima, cuja temática centra-se no consumismo infantil, evidenciam uma realidade não só nacional, mas também mundialmente criticada. No entanto, as pesquisas revelam um aumento dos índices de consumo de produtos (e "estilos de vida") voltado às crianças. Além disso, a publicidade direcionada a elas mostra-se cada vez mais agressiva e muitos pais e educadores parecem não saber lidar adequadamente com essa realidade.

Vocês concordam com as posições e com os argumentos expressos nesses textos? Fundamentem sua posição em um texto dissertativo-argumentativo, apresentando as principais causas do problema e seus efeitos sobre o público infantil. A julgar pelo momento presente, como vocês acham que os pais e educadores em geral poderiam amenizar essa situação? Vocês poderão utilizar outras informações pertinentes. A redação deverá ter no mínimo 20 linhas e no máximo 35.

Prazo de entrega: M1: 18/02/2010; M2: 25/02/10.

2 comentários:

Evandro L. Mezadri disse...

Muito bom esse blog, informação, atualidade, entretenimento, gostei bastante. Belo trabalho!
Abraço e sucesso!

Teresinha Brandão disse...

Olá, Evandro! Sê bem-vindo!
Gratas pelo comentário gentil!
Equipe da Santa Mônica!
Bj, Tê!