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Se, tanto quanto nós, as palavras e os textos têm sua história, essa história pode ser contada de boca em boca, narrada em livros, ou ainda, como fazem as tecelãs de Santiago do Chile, que as bordam em suas lindas arpilleras...
As bordadeiras de Santiago
Por Eduardo Galeano
As crianças, que dormem três na mesma cama, estendem seus braços na direção de uma vaca voadora. Papai Noel traz um saco de pão, e não de brinquedos. Aos pés de uma árvore, mendiga uma mulher. Debaixo do sol vermelho, um esqueleto conduz um caminhão de lixo. Pelos caminhos sem fim, andam homens sem rosto. Um olho imenso vigia. No centro do silêncio e do medo, fumega um caldeirão popular.
O Chile é este mundo de trapos coloridos sobre um fundo de sacos de farinhas. Com sobras de lã e velhos farrapos bordam as bordadeiras, mulheres dos subúrbios miseráveis de Santiago. Bordam arpilleras, que são vendidas nas igrejas. Que exista quem as compre é coisa inacreditável. Elas se assombram:
_ Nós bordamos nossos problemas, e nossos problemas são feios.
Primeiro foram as mulheres dos presos. Depois, muitas outras se puseram a bordar. Por dinheiro, que ajuda a remediar; mas não só pelo dinheiro. Bordando arpilleras as mulheres se juntam, interrompem a solidão e a tristeza e por umas horas quebram a rotina da obediência ao marido, ao pai, ao filho macho e ao General Pinochet...
(Galeano, Eduardo. Mulheres.Porto Alegre: L & PM, 1997, p. 156.Grifos do autor)
Publicado em Tear de Sentidos (aqui). Informações sobre Eduardo Galeano: InfoEscola (aqui).
As bordadeiras de Santiago
Por Eduardo Galeano
As crianças, que dormem três na mesma cama, estendem seus braços na direção de uma vaca voadora. Papai Noel traz um saco de pão, e não de brinquedos. Aos pés de uma árvore, mendiga uma mulher. Debaixo do sol vermelho, um esqueleto conduz um caminhão de lixo. Pelos caminhos sem fim, andam homens sem rosto. Um olho imenso vigia. No centro do silêncio e do medo, fumega um caldeirão popular.
O Chile é este mundo de trapos coloridos sobre um fundo de sacos de farinhas. Com sobras de lã e velhos farrapos bordam as bordadeiras, mulheres dos subúrbios miseráveis de Santiago. Bordam arpilleras, que são vendidas nas igrejas. Que exista quem as compre é coisa inacreditável. Elas se assombram:
_ Nós bordamos nossos problemas, e nossos problemas são feios.
Primeiro foram as mulheres dos presos. Depois, muitas outras se puseram a bordar. Por dinheiro, que ajuda a remediar; mas não só pelo dinheiro. Bordando arpilleras as mulheres se juntam, interrompem a solidão e a tristeza e por umas horas quebram a rotina da obediência ao marido, ao pai, ao filho macho e ao General Pinochet...
(Galeano, Eduardo. Mulheres.Porto Alegre: L & PM, 1997, p. 156.Grifos do autor)
Publicado em Tear de Sentidos (aqui). Informações sobre Eduardo Galeano: InfoEscola (aqui).
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