BLOGUE DA ESCOLA SANTA MÔNICA _ PELOTAS/RS

"Chega mais perto e contempla as palavras.

Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra.

E te pergunta, sem interesse pela resposta.


Pobre ou terrível, que lhes deves:

'Trouxeste a chave?' "

(Carlos Drummond de Andrade. Procura da poesia)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Proposta de redação: alunos do 2º e 3º anos

Imagem: Kim Anderson (aqui)

"O paraíso e o inferno aqui na Terra

Por Domenico di Masi

No início do século 20, Freud publicou A Interpretação dos sonhos, Taylor inventou o Scientific Management, Einstein anunciou a Teoria da Relatividade, Picasso expôs Les Demoiselles d'Avignon, Stravinski compôs A Sagração da Primavera.

Cada área sofreu uma profunda revolução da qual desabrocharia a sociedade pós-industrial na qual temos agora a sorte de viver. Agora as descobertas surgem como cascata, e não passa ano em que não se realizem grandes progressos. Se pensarmos que a potência dos microprocessadores, que são a base de cada tecnologia, dobra a cada 18 meses...

O trabalho é investido por cinco grandes ondas de transformação: o progresso tecnológico, o desenvolvimento organizacional, a globalização, a escolarização e os meios de comunicação.


Disso se deduz que todas as nossas atividades se intelectualizam, que desaparecem muitas atribuições cansativas e tediosas, que somos capazes de produzir sempre mais bens e mais serviços com cada vez menos contribuição específica de trabalho humano.

Acima de tudo resulta numa dificuldade maior em discernir trabalho, diversão e aprendizado; caem as barreiras entre cansaço e tempo livre; de qualquer maneira o trabalho ocupa apenas um décimo do nosso tempo de vida.

Isso significa que, enquanto até agora a família e a escola se preocuparam em preparar os jovens para o trabalho, no futuro, deve¬rão se preocupar em prepará-los para o tempo livre. O lazer é uma profissão e uma arte não menos importante que o trabalho, e a qualidade da nossa vida depende sobretudo da qualidade do nosso lazer. Porém os países anglo-saxões e o Japão, sendo hiperindustrializados economicamente e psicologicamente, aprenderam a organizar e viver o trabalho, mas desaprenderam a organizar e viver o tempo livre. Por outro lado, os países latinos (entre eles o Brasil), não tendo nunca assimilado profundamente o modelo industrial, conservam uma grande vitalidade extratrabalho: sensualidade, comunicabilidade, hospitalidade, convivência. Estão, portanto, mais preparados para viver com alegria a sociedade do tempo livre que nos aguarda.

Os três pilares do tempo livre serão a sensualidade, a criatividade e a estética. Os luxos cada vez mais raros e preciosos consistirão no silêncio, no espaço, na privacidade, na segurança, na alegria, na beleza: todos pressupostos imprescindíveis para satisfazer as necessidades de introspecção, amizade, amor, lazer e convivência: isto é, as necessidades emergentes.

Em um conto belíssimo, intitulado A Rosa de Paracelso, Borges sustenta que o paraíso existe: é a vida aqui na Terra. Borges acrescentou que existe também o inferno: e consiste em não percebermos que vivemos em um paraíso. Tudo está em compreender a condição feliz à qual fomos destinados, nascendo e tomando consciência de que a felicidade consiste em procurá-la."

(Folha de São Paulo, São Paulo, 11 de maio de 2000. Folhaequilíbrio)
Domenico di Masi, sociólogo italiano, é autor do livro Desenvolvimento sem Trabalho (Ed. Esfera), entre outros, e assinava uma coluna na Folha toda segunda semana do mês.
Imagem (aqui)
"Ócio essencial


Por Ignácio de Loyola Brandão

O ócio é essencial ao ser humano.

Mas o homem é um tolo e acredita no trabalho, na força do trabalho, no enobrecimento que o trabalho traz.

Por isso, o homem inventou o computador, o celular e carros cada vez mais velozes. E o learjet, o helicóptero, e etc. Para correr, correr, correr e fazer reuniões, reuniões.

Com o celular e o computador, com os laptops e notebooks, a humanidade está trabalhando como desgraçada cada vez mais.

Veja nos aeroportos o número de executivos falando ao celular.

Veja o desespero deles quando precisam desligar o telefone no avião. Ficam nervosos, tremem, soluçam, sentem-se desligados do mundo, da terra.

Sem celular e computador um homem fica impotente.

Um homem ocioso, em lugar de ser considerado um sábio, é visto como marginal, outsider, deslocado, um pária da sociedade, um elemento que não interessa ao capitalismo vigente.

Preconceitos.

Porque a maior delícia do mundo é o ócio, o não fazer nada, o saber que os outros estão fazendo e você não, você não participa dessa loucura geral que tem provocado úlceras, infartos, câncer, angústias, ansiedades, carradas de toneladas de Prozac.

Quem vive no ócio dispensa o Prozac.

Por acaso as toneladas de antidepressivos são gratuitas?

Não!

E mais não escrevo, nem digo, porque vou estragar meu ócio interrompido."

(Crônica extraída de O Povo Online:
aqui)
Se desejarem informações sobre Ignácio de Loyola Brandão, cliquem aqui.

Imagem (aqui)
"A diferença entre a obsessão pelo trabalho e a totalidade
Por Osho
Perguntaram a Osho: Você poderia falar sobre a diferença entre obsessão pelo trabalho e totalidade no trabalho?

A diferença é enorme. O viciado no trabalho não é pleno em seu trabalho. Ele é obcecado pelo trabalho; ele não consegue sentar-se silenciosamente, tem de fazer algo, seja necessário ou não, e essa não é a questão.

No Japão, estão colocando mais e mais robôs para trabalhar nas fábricas, porque o robô pode trabalhar vinte e quatro horas por dia, sem greves, sem problemas com os sindicatos, sem pedir aumento de salário constantemente, sem férias.

Mas os trabalhadores são absolutamente contra isso, e o governo está pedindo a eles que tirem um dia de folga em sete.

No Japão, até aos domingos as pessoas trabalham — não existem feriados. E as pessoas estão se opondo ao governo, existe muito tumulto. Elas não estão prontas para ter um dia de folga por semana.

Serão pagas por isso, qual é o problema? Elas estão viciadas. Dizem: "O que vamos fazer em casa? Não, nós não queremos esse tipo de problema. Em casa haverá brigas com a esposa, com as crianças, e nós estamos viciados em trabalho. Abriremos o capô dos carros, embora tudo esteja funcionando, e destruiremos o carro tentando melhorar o motor. Abriremos o aparelho de televisão e o destruiremos. Já fizemos isso! Algumas vezes, quando tivemos um feriado nacional, nós o fizemos — destruímos os velhos relógios de nossos avós, que estavam funcionando perfeitamente bem, mas alguma coisa tinha de ser feita!"

Esses são os workaholics, os viciados em trabalho, exatamente como as pessoas viciadas em drogas. O trabalho é sua droga. Ele os mantém ocupados. Ele mantém as pessoas afastadas de suas preocupações, afastadas de suas tensões, exatamente como qualquer droga; ele sufoca suas preocupações, tensões, ansiedades, sofrimentos, cristianismo, Deus, pecado, inferno — tudo é sufocado. Uma pessoa infeliz subitamente começa a rir, a se divertir.

Apenas vá a um bar e veja. Um bar é um lugar muito mais alegre que uma igreja. Todos riem, se divertem, brigam, socam o nariz do outro, e quando voltam para casa já é tarde da noite, estão cambaleantes, caindo na rua.

Um homem chegou em casa tremendo muito, tão bêbado que não conseguia abrir o cadeado, porque a chave e o cadeado... A chave estava em uma mão, o cadeado em outra, e não havia o encontro, nenhum diálogo!

Finalmente, o policial da rua viu o pobre coitado, aproximou-se e perguntou: "Posso ajudá-lo?"

O bêbado disse: "Sim, apenas mantenha a casa firme. Parece que está havendo um grande terremoto!"

Eles se esqueceram de tudo... do mundo, de seus problemas e da terceira guerra. Mas você pode usar tudo como uma droga, apenas se torne viciado.

Algumas pessoas mascam chicletes. Tire os chicletes delas e veja como se tornam infelizes! Imediatamente começam a pensar: "A vida é inútil. Não há sentido na vida. Onde está o meu chiclete?" O chiclete as mantém envolvidas, da mesma forma que os cigarros.

E também é por isso que as pessoas bisbilhotam a vida dos outros. Isso as mantém envolvidas. Ninguém se preocupa se é verdadeiro ou falso; essa não é a questão. A questão é: como se manter envolvido e afastado de si mesmo? [...]

O viciado em trabalho não pode meditar; não pode sentar-se silenciosamente, nem mesmo por alguns minutos. Ele se inquietará, mudará de posição, fará uma coisa ou outra, olhará dentro desta ou daquela bolsa, mesmo sabendo que não há nada nelas. Ele tirará os óculos, limpará, colocará de lado, mesmo sabendo que estão limpos.

Mas o homem que é total em seu trabalho não é viciado. Ele pode ser total — e será total em qualquer coisa. Ele será total enquanto dorme, será total enquanto caminha. Ele será apenas um caminhante, nada mais — nenhum outro pensamento, nenhum outro sonho, nenhuma outra imaginação. Ao dormir, ele simplesmente dormirá; ao comer, simplesmente comerá.

Você não faz isso. Você come e sua mente está fazendo centenas de viagens...

Eu tenho visto — em cada cama não há apenas duas pessoas, mas uma grande multidão. O marido está fazendo amor com sua esposa, mas pensa em Sophia Loren; a mulher não está fazendo amor com o marido, está fazendo amor com Mohammed Ali. Em cada cama você encontrará uma multidão! Ninguém é total em cada ato, nem mesmo no amor.

Osho. In: Dinheiro, Trabalho, Espiritualidade (
aqui)

Imagem (aqui)
"Pelotas, ....... de ....... de .......

Senhor Domenico di Masi

Após leitura da matéria de sua autoria, veiculada no jornal Folha de São Paulo, cujo assunto se referia ao possível aumento de tempo destinado ao lazer, julguei-a um tanto utópica à realidade brasileira, por isso, decidi escrever-lhe e expor minhas ideias, que vão de encontro às suas.

Manifesto, primeiramente, minha discordância quanto ao fato de o trabalho ocupar apenas um décimo de nosso tempo de vida. Diante de uma crise econômica de dimensões assustadoras, inúmeras pessoas submetem-se a longas jornadas de trabalho e, muitas vezes, possuem mais de um emprego para garantir uma renda mensal digna a si e a seus familiares.

Além disso, o trabalho infantil, comum em países mais pobres, consome grande parte do tempo livre de muitas crianças. Estas deveriam utilizar seu tempo livre aproveitando os benefícios proporcionados por uma infância sadia e tornando-as aptas, nas escolas, para desfrutar de um futuro melhor.

Contesto, ainda, sua afirmação ao julgar necessário preparar os jovens para o tempo livre, e não mais para o trabalho. Hoje, devido às grandes exigências do mercado profissional, adolescentes procuram qualificar-se sempre mais, por meio de cursos de atualização, estágios e estudos de outras línguas. Porém, mesmo com a intensa dedicação, a garantia de um emprego no futuro é incerta.

Assim, espero que reconsidere seu posicionamento e perceba as constrastantes diferenças entre o Brasil e os países ricos, como a Itália.

Respeitosamente,

Natália Larentis"
Natália Larentis foi minha aluna e atualmente é médica. Ela escreveu esse texto, dirigido ao Sr. Domenico di Masi (ver acima), quando se preparava para o vestibular. Publicado originalmente em Tear de Sentidos (aqui).

Proposta de redação

Esperava-se que a alta tecnologia, com suas novas formas de mecanização e informatização, proporcionassem, no início do novo milênio, um largo espaço de tempo destinado ao lazer. No entanto, o que se percebe são posições polêmicas quanto às relações de trabalho, na atualidade e no futuro, e à busca por maior tempo livre aos trabalhadores.

Baseando-se nas informações acima, bem como no seu conhecimento de mundo, redijam um texto dissertativo-argumentativo no qual expressem seu posicionamento acerca da relação trabalho e lazer em nosso país. Vocês poderão utilizar outras informações que julgarem pertinentes. A redação deverá ter no mínimo 20 linhas e no máximo 35.

Lembrem-se: lazer não é necessariamente "preguiça"... Pode ser entendido assim, mas deixem claro na redação o que vocês entendem por "lazer".

Alguns questionamentos: como é a "qualidade" do lazer do brasileiro de um modo geral? Nós, brasileiros, na grande maioria, sabemos aproveitar "bem" as nossas horas de lazer? Expliquem de que modo deve ser entendido "bem", ok? Não se esqueçam de, ao caracterizarem o funcionamento do mercado de trabalho na atualidade, para contrapor às horas destinadas ao lazer, levarem em conta a realidade brasileira, mesmo que tracem comparações com outros países.
Bj! Tê!

Prazo de entrega: 2º ano: 17/02/2010; 3º ano: 01/03/2010.

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