Imagem: escultura "O beijo", de Rodin
"Texto: elementos intra e extratextuais
Por Teresinha Brandão
O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias,
uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta
(Gregório de Matos)
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias,
uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta
(Gregório de Matos)
Temos lido em posts anteriores sobre textos, tecer, produzir e contar textos... Mas, afinal, o que podemos entender por "texto"?
É comum e verdadeira a afirmação segundo a qual um texto admite a possibilidade de mais de uma leitura, mas não menos verdadeiro é o fato de ele não aceitar toda e qualquer leitura.
Essas leituras são viáveis porque não há separação categórica entre autor/leitor/texto/contexto. Todos esses elementos são constitutivos do processo de leitura. Sobre isso, lembremos:
1º) O texto não é o ponto de partida nem de chegada do(s) sentido(s) pois, se os aspectos exteriores a ele (as condições de produção, noção a referida posteriormente) são determinantes na construção de sentido(s), há de salientarmos que o próprio texto, no seu interior, também sugere pistas linguísticas (assim como as pistas contextuais) para o leitor compreendê-lo. Explico mais detalhadamente essa afirmação valendo-me do poema acima, cuja autoria remete à época do Barroco no Brasil, aqui, acompanhado da escultura _ embora de mármore, ardente! _ O beijo, de Rodin.
Na tentativa de definir o amor, o poeta cria, por meio da escolha e da combinação lexical, imagens que, na mente do leitor, apontam para a hipótese de uma leitura do poema: o amor "carnal" é, para o eu-lírico, o "verdadeiro" amor, absoluto e único. "Quem diz outra coisa é besta" ratifica essa concepção absoluta e exclui muitas outras possibilidades de leitura do texto.
Os termos selecionados _ artérias/bocas/veias/ancas/, e ainda, embaraço/união/tremor/confusão/batalha/reboliço _, quando combinados, funcionam como pistas, inseridas no interior do próprio texto, aludindo à concepção do amor carnal como valor/sentimento máximo defendido pelo eu-lírico.
2º) O(s) sentido(s) de um texto não é (são) determinado(s) exclusivamente pelo seu autor uma vez que, se assim o fosse, entenderíamos claramente a intenção desse autor ... Será possível captar-se plenamente essa intenção?
3º) Esse(s) sentido(s) não é (são) determinado(s) igualmente pelo leitor já que explicações como "Mas essa é a 'minha' leitura" ou "Essa é a leitura que 'eu' fiz do texto" permitiriam ao leitor tornar-se fonte exclusiva e principal de sentido(s), possibilitando-lhe, assim, apropriar-se de "toda e qualquer" leitura.
4º) Por fim, ressalto a importância das condições de produção e das pistas contextuais, estas a serem analisadas posteriormente. No entanto, a estrutura linguística não pode ser ignorada sob a pena de o texto "ficar à deriva" dessas condições de produção que, no decorrer do tempo, não necessariamente podem ser resgatadas.
Essas leituras são viáveis porque não há separação categórica entre autor/leitor/texto/contexto. Todos esses elementos são constitutivos do processo de leitura. Sobre isso, lembremos:
1º) O texto não é o ponto de partida nem de chegada do(s) sentido(s) pois, se os aspectos exteriores a ele (as condições de produção, noção a referida posteriormente) são determinantes na construção de sentido(s), há de salientarmos que o próprio texto, no seu interior, também sugere pistas linguísticas (assim como as pistas contextuais) para o leitor compreendê-lo. Explico mais detalhadamente essa afirmação valendo-me do poema acima, cuja autoria remete à época do Barroco no Brasil, aqui, acompanhado da escultura _ embora de mármore, ardente! _ O beijo, de Rodin.
Na tentativa de definir o amor, o poeta cria, por meio da escolha e da combinação lexical, imagens que, na mente do leitor, apontam para a hipótese de uma leitura do poema: o amor "carnal" é, para o eu-lírico, o "verdadeiro" amor, absoluto e único. "Quem diz outra coisa é besta" ratifica essa concepção absoluta e exclui muitas outras possibilidades de leitura do texto.
Os termos selecionados _ artérias/bocas/veias/ancas/, e ainda, embaraço/união/tremor/confusão/batalha/reboliço _, quando combinados, funcionam como pistas, inseridas no interior do próprio texto, aludindo à concepção do amor carnal como valor/sentimento máximo defendido pelo eu-lírico.
2º) O(s) sentido(s) de um texto não é (são) determinado(s) exclusivamente pelo seu autor uma vez que, se assim o fosse, entenderíamos claramente a intenção desse autor ... Será possível captar-se plenamente essa intenção?
3º) Esse(s) sentido(s) não é (são) determinado(s) igualmente pelo leitor já que explicações como "Mas essa é a 'minha' leitura" ou "Essa é a leitura que 'eu' fiz do texto" permitiriam ao leitor tornar-se fonte exclusiva e principal de sentido(s), possibilitando-lhe, assim, apropriar-se de "toda e qualquer" leitura.
4º) Por fim, ressalto a importância das condições de produção e das pistas contextuais, estas a serem analisadas posteriormente. No entanto, a estrutura linguística não pode ser ignorada sob a pena de o texto "ficar à deriva" dessas condições de produção que, no decorrer do tempo, não necessariamente podem ser resgatadas.
Mais tarde, trataremos das condições de produção da leitura e dos textos, bem como de suas implicações relativas à concepção de texto/discurso."
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