Os rios haviam secado, literalmente. A vegetação voltara aos tufos dos primeiros tempos. Os pássaros, os peixes, e os animais em geral, há muito se haviam extinguido dado a Grande Tragédia da Humanidade, chamada de “Poluição Ponto 1000”.
Finalmente o ser humano chegara ao derradeiro estágio. De nada adiantaram as repetidas campanhas e advertências sobre a premonição daquele fim para o qual todos haviam colaborado. A ânsia do lucro fora maior que tudo.
E lá estava ele, aquele homem que encarnava a Espécie, como o herói de um cenário negativo. Era o último. Ainda inadaptado à solidão; barbudo, sujo, desnudo. Realmente tinha-se dado uma terrível compulsão universal de volta às origens, numa inversão da escala evolutiva. Era um retorno aos primeiros tempos, depois do pináculo do ser humano.
Agora, aquela sombra de homem se movimentava num cenário de pedra-pomes, cujas elevações e árvores petrificadas desenhavam fantasmagóricas criaturas, dignas de um cenário do Macbeth de Orson Welles.
Os períodos dos dias e das noites, por um supremo desequilíbrio, transformaram-se em um ambiente único e estático. Não havia mais chuva. Nem ventos. Nem sol. Nem lua.
Permanentemente, aquele vazio enorme há anos – igual, irremediavelmente igual – transformando o ambiente numa espécie de entardecer eterno, provindo de nuvens sanguinolentamente avermelhadas. E o silêncio... Um silêncio eloquente em todos os lados.
Mas ele, o Último Homem, não desistia apesar de toda a adversidade. E lutava para sobreviver. Precisava caminhar quilômetros a cada dia, em busca de um pouco de água, penosamente obtida depois de muito cavar com as próprias mãos. Seus pés estavam em chagas, de tanto vagar na lava consolidada e áspera. Aliás, o homem pode suportar muita coisa enquanto suportar a si mesmo. Pode viver sem esperança – inclusive, sem amigos, sem livros ou mesmo sem música, enquanto for capaz de ouvir seus próprios pensamentos. Mas naquela situação ele se dera conta de que o homem tinha sido o lobo do próprio homem. E, talvez movido pela decepção, começou a fraquejar.
Dramática era sua busca, em vão, de estabelecer qualquer diálogo – havia muito ansiado – com o próprio eco que fosse, como uma forma de vencer aquele abandono, mesmo através da mais rudimentar forma de comunicação ainda possível, pensava.
“Eu sou um ser humano!", gritava com suas poucas forças, e por cerca de vários dias escutava apenas sua própria frase, reproduzida até sumir. E insistia bradando nova sentença, na esperança de ouvir qualquer contestação. De som ou de ideias.
As verdades transcendem. E deu-se conta de que outras também eram válidas. Que o homem, por exemplo, vazio do contato do semelhante, mesmo que ainda lhe sobrem alguns valores, ao final passa a ansiar pela solidão da morte. “Por que não lutara para evitar a poluição ambiental?” – perguntava-se em desespero, autopunindo-se.
Exausto, no torvelinho daquele labirinto, sem uma tênue esperança ou possibilidade de sair, abandonou-se na maior lassidão. E, talvez no desejo vão de arrojar para fora de si a responsabilidade de continuar vivendo, reuniu forças e deu o derradeiro grito: "Eu vou morrer!"
Finalmente o ser humano chegara ao derradeiro estágio. De nada adiantaram as repetidas campanhas e advertências sobre a premonição daquele fim para o qual todos haviam colaborado. A ânsia do lucro fora maior que tudo.
E lá estava ele, aquele homem que encarnava a Espécie, como o herói de um cenário negativo. Era o último. Ainda inadaptado à solidão; barbudo, sujo, desnudo. Realmente tinha-se dado uma terrível compulsão universal de volta às origens, numa inversão da escala evolutiva. Era um retorno aos primeiros tempos, depois do pináculo do ser humano.
Agora, aquela sombra de homem se movimentava num cenário de pedra-pomes, cujas elevações e árvores petrificadas desenhavam fantasmagóricas criaturas, dignas de um cenário do Macbeth de Orson Welles.
Os períodos dos dias e das noites, por um supremo desequilíbrio, transformaram-se em um ambiente único e estático. Não havia mais chuva. Nem ventos. Nem sol. Nem lua.
Permanentemente, aquele vazio enorme há anos – igual, irremediavelmente igual – transformando o ambiente numa espécie de entardecer eterno, provindo de nuvens sanguinolentamente avermelhadas. E o silêncio... Um silêncio eloquente em todos os lados.
Mas ele, o Último Homem, não desistia apesar de toda a adversidade. E lutava para sobreviver. Precisava caminhar quilômetros a cada dia, em busca de um pouco de água, penosamente obtida depois de muito cavar com as próprias mãos. Seus pés estavam em chagas, de tanto vagar na lava consolidada e áspera. Aliás, o homem pode suportar muita coisa enquanto suportar a si mesmo. Pode viver sem esperança – inclusive, sem amigos, sem livros ou mesmo sem música, enquanto for capaz de ouvir seus próprios pensamentos. Mas naquela situação ele se dera conta de que o homem tinha sido o lobo do próprio homem. E, talvez movido pela decepção, começou a fraquejar.
Dramática era sua busca, em vão, de estabelecer qualquer diálogo – havia muito ansiado – com o próprio eco que fosse, como uma forma de vencer aquele abandono, mesmo através da mais rudimentar forma de comunicação ainda possível, pensava.
“Eu sou um ser humano!", gritava com suas poucas forças, e por cerca de vários dias escutava apenas sua própria frase, reproduzida até sumir. E insistia bradando nova sentença, na esperança de ouvir qualquer contestação. De som ou de ideias.
As verdades transcendem. E deu-se conta de que outras também eram válidas. Que o homem, por exemplo, vazio do contato do semelhante, mesmo que ainda lhe sobrem alguns valores, ao final passa a ansiar pela solidão da morte. “Por que não lutara para evitar a poluição ambiental?” – perguntava-se em desespero, autopunindo-se.
Exausto, no torvelinho daquele labirinto, sem uma tênue esperança ou possibilidade de sair, abandonou-se na maior lassidão. E, talvez no desejo vão de arrojar para fora de si a responsabilidade de continuar vivendo, reuniu forças e deu o derradeiro grito: "Eu vou morrer!"
Finalmente, o eco respondeu-lhe, entre seco e irônico: “Bem feito!"
E, naquela imensidão niilista, o Nada serviu de mortalha para o Último Homem.
E, naquela imensidão niilista, o Nada serviu de mortalha para o Último Homem.
Rubens Amador é pelotense, cronista literário e jornalístico. Produziu, durante vários anos, muitos trabalhos como colaborador na imprensa pelotense. Concordou em publicar algumas crônicas e contos no blogue Pelotas, Capital Cultural, cujo editor é Francisco Antônio Soto Vidal. O conto acima foi transcrito do blogue mencionado (aqui).
Gratíssima ao Sr. Rubens por nos brindar com esse presente, e ao Francisco, por publicá-lo e permitir que eu o transcrevesse no Alquimia!
O texto acima veio a público em 1979. Já naquela época _ vejam a contemporaneidade do conto! _ o Sr. Rubens Amador conseguiu, com um estilo ao mesmo tempo grave e profundo, descrever muito bem a crise existencial de um homem (o Último Homem) e assim traçar um breve _ como requer o gênero conto _ panorama da situação ecológica do Planeta atualíssima! Comentaremos posteriormente esse texto. Bj, Laís e Tê!
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