(Sugiro a leitura imediatamente anterior a este post)
"Questão de nomes
Por Carlos Heitor Cony
Não, não se trata de nomes para a sucessão presidencial, é assunto que considero chato e, honestamente, não me preocupa. Falo de nomes, nomes de verdade, que a gente engole como necessários e que sempre são relativos, dependentes de circunstâncias além da semântica.
Dou exemplos: num balé famoso, coreografado por Leonid Massine, com música de Offenbach, há um personagem ridículo que é mencionado como “o brasileiro”. Quando o balé veio ao Brasil, o personagem virou, sem mais nem menos, “o peruano”. Agora, esse peruano comparece num palco americano como “o iraquiano”. Coisas.
Experiência pessoal minha. Certa vez, em Copenhague, fui a um restaurante especializado em comida afrodisíaca. Pratos complicados que levantam defunto, tanto que, ao lado, havia um cabaré para receber a sobra do apetite dos clientes.
Bem, escolhi uma coisa simples, mas que o maître me garantiu como eficaz: codornas “à Mme. Pompadour”. Por sinal, muito gostoso, molho levemente picante, avermelhado e rude, que combinava estupendamente com um vinho pastoso e quase sem perfume. Por causa do molho à Mme. Pompador ou porque sou mesmo depravado, fui dar uma espiada no tal cabaré e lá passei o resto da noite.
Anos depois, vergado ao peso de muitos pecados, fui fazer um retiro espiritual numa casa especializada em Verona, à margem do lago. Piedosos dominicanos davam a logística, incluindo as três refeições principais. Logo na primeira noite fui surpreendido por um prato de codornas com um molho avermelhado e rude. Por Júpiter! Já conhecia aquilo!
Chamei o frade-dispenseiro e perguntei pelo nome daquele molho. O frade gostou da pergunta, era especialidade do convento. E revirando os olhos, como Dorival Caymmi, informou-me que era o famoso, o inigualável molho 'à Santa Terezinha do Menino Jesus'."
Será a situação acima apresentada relativa a apenas uma "questão de nomes"...?
Para conhecerem quem foi Mme. Pompadour, devido à sua importância na referida crônica, cliquem aqui.
Por Carlos Heitor Cony
Não, não se trata de nomes para a sucessão presidencial, é assunto que considero chato e, honestamente, não me preocupa. Falo de nomes, nomes de verdade, que a gente engole como necessários e que sempre são relativos, dependentes de circunstâncias além da semântica.
Dou exemplos: num balé famoso, coreografado por Leonid Massine, com música de Offenbach, há um personagem ridículo que é mencionado como “o brasileiro”. Quando o balé veio ao Brasil, o personagem virou, sem mais nem menos, “o peruano”. Agora, esse peruano comparece num palco americano como “o iraquiano”. Coisas.
Experiência pessoal minha. Certa vez, em Copenhague, fui a um restaurante especializado em comida afrodisíaca. Pratos complicados que levantam defunto, tanto que, ao lado, havia um cabaré para receber a sobra do apetite dos clientes.
Bem, escolhi uma coisa simples, mas que o maître me garantiu como eficaz: codornas “à Mme. Pompadour”. Por sinal, muito gostoso, molho levemente picante, avermelhado e rude, que combinava estupendamente com um vinho pastoso e quase sem perfume. Por causa do molho à Mme. Pompador ou porque sou mesmo depravado, fui dar uma espiada no tal cabaré e lá passei o resto da noite.
Anos depois, vergado ao peso de muitos pecados, fui fazer um retiro espiritual numa casa especializada em Verona, à margem do lago. Piedosos dominicanos davam a logística, incluindo as três refeições principais. Logo na primeira noite fui surpreendido por um prato de codornas com um molho avermelhado e rude. Por Júpiter! Já conhecia aquilo!
Chamei o frade-dispenseiro e perguntei pelo nome daquele molho. O frade gostou da pergunta, era especialidade do convento. E revirando os olhos, como Dorival Caymmi, informou-me que era o famoso, o inigualável molho 'à Santa Terezinha do Menino Jesus'."
Será a situação acima apresentada relativa a apenas uma "questão de nomes"...?
Para conhecerem quem foi Mme. Pompadour, devido à sua importância na referida crônica, cliquem aqui.
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