BLOGUE DA ESCOLA SANTA MÔNICA _ PELOTAS/RS

"Chega mais perto e contempla as palavras.

Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra.

E te pergunta, sem interesse pela resposta.


Pobre ou terrível, que lhes deves:

'Trouxeste a chave?' "

(Carlos Drummond de Andrade. Procura da poesia)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Pedro Nariz, por Francisco Dias da Costa Vidal

Imagem: albatroz

"O perfil do homem era o de uma raposa. Olhos e nariz, cobertos parcialmente pelo chapéu, concorriam para justificar o apelido.

O homem era de pouca conversa e de mais agir. Daí que, prestativo, ajudava no puxar das redes. Mas tinha também iniciativas próprias.

Numa delas, capturou, não sabemos como, um albatroz que, entre perdido e talvez até doente, deu com os costados pela praia – coisa rara e, para nós, única na década.

Estamos nos referindo à maior das espécies, a de três metros de envergadura – um aviãozinho, no sentido transversal; a cabeça com quase 2 palmos; o bico: um alicate dos grandes! Envergadura de 1,82 m. Tudo somente comparável ao condor dos Andes!

Pois o Pedro Nariz nos apareceu carregando a ave num carrinho de mão, que era exposta perante os espectadores e logo instada a desenvolver sua tendência primordial: a de voar, supondo poder ganhar a liberdade. Só que, ao julgar-se livre, pouco durava a alegria da ave, que era logo trazida a terra por uma corda presa à pata...

Daí que ele – o suposto proprietário – cobrava pela exibição. Só que pouco durou também a alegria do explorador do negócio: a ave amanheceu morta, o que Pedro atribuiu à inveja dos menos amigos...

Tempos depois, Pedro Nariz encontrou, na praia, enorme e belo garrafão que dera à costa – outra raridade que sua sorte, pelo visto, atraía!

Mas, percebendo que o frasco continha um líquido, tratou de ler uns dizeres que o frasco exibia em etiqueta... empenho inútil.

A linguagem, que era esquisita, levou-o então a investigar o conteúdo com o próprio nariz. Abrindo o frasco, sentiu um forte e desconhecido odor, decidindo-se o “sortudo” a esvaziar o vidro na areia, ficando apenas com o casco e os dizeres.

Não tardou em surgir um entendido, que concluiu tratar-se de um concentrado de perfume francês – um extrato – produto de algum naufrágio ou descuido no transbordo de carga!...

Pedro Nariz tinha derramado na praia uma verdadeira fortuna, que, se não ambicionasse possuir nada mais que o vidro, lhe teria garantido uma regular quantia em dinheiro... que perdeu, por sua ignorância e imediatismo!"

Do livro Vamos ao Hermenegildo?, de Francisco Dias da Costa Vidal.

Imagem: Desenho com a personagem Pedro Nariz

A personagem Pedro Nariz foi comentada pelo prof. Homero, de Santa Vitória, num site onde ele também publica suas próprias crônicas. Para quem desejar conhecer mais sobre Pedro Nariz, clique aqui.

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